Autora de A Linguagem dos Pescadores da Ericeira
25.JUN.2011
A pequena escada de madeira que dá acesso à Galeria Orlando Morais é uma peça magnífica de carpintaria, que parece ter saído da oficina de um mestre carpinteiro da quase extinta construção naval tradicional… e o mesmo se diga do travejamento do tecto da sala que acolheu, no passado dia 25 de Junho, uma breve homenagem à Drª Joana Lopes Alves. Homenagem ou pretexto para uma reunião. na qual os amigos deram o tom e o toque emocional do regresso da “Joaninha” à sua juventude.
Joana Lopes Alves é conhecida por duas obras relacionadas com a Ericeira: A Linguagem dos Pescadores da Ericeira (Ed. facsimile da ed. de 1965, Lisboa, Junta Distrital, 1993) e Roteiro de Pedras das Costas da Ericeira e Cascais pelo Pescador Fernando Brites (Ericeira, Mar de Letras, 1999).
Vale a pena lembrar como tudo começou, porque se trata de um percurso exemplar. Tudo começou em 1956 com a escolha do tema para a Dissertação, com que, nesse tempo, se dava por concluída a Licenciatura. A Joana tinha concluído a parte escolar do Curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. Depois de alguma hesitação quanto ao tema da tese, o Professor Lindley Cintra – o orientador escolhido – sugeriu-lhe um estudo sobre a linguagem dos pescadores da Ericeira, tendo em conta que, ao contrário do que ia sucedendo por toda a Europa e Estados Unidos, não havia em Portugal nenhum trabalho de cariz científico sobre a linguagem das populações ribeirinhas. Na sugestão de Lindley Cintra pesou também o facto de a Joana passar férias na Ericeira e, portanto, conhecer bem o meio. O “portanto” tem que se lhe diga… esse entrosamento mais ou menos profundo entre os banhistas e a gente da terra era um costume cujos resultados se conhecem (p. ex., no que diz respeito ao porto e a outras obras públicas).
Munida de sólido travejamento conceptual e metodológico, como só se consegue sob a orientação de um grande mestre, a Joana partiu para os inquéritos à população, convertendo alguns em “informantes”. Dos pescadores e suas famílias saiu o material para um estudo de linguística, pioneiro na forma como se viria entender esta ciência: sempre em articulação com a realidade antropológica e sociológica.
Exemplar, pois, no rigor científico, e exemplar na forma de transformar uma investigação fundamental realizada na Universidade em matéria acessível e proveitosa ao grande público; exemplar também na relação de confiança e colaboração conseguidas entre pessoas à partida tão distantes. Foi essa amizade que, quarenta anos mais tarde, permitiu aos herdeiros de Fernando Brites a doação do seu precioso roteiro para encontrar pesqueiros… E a Drª Joana ainda nos prometeu a publicação de um novo inquérito linguístico actualizado.
Como elo de continuidade, ali estava, na assembleia, o nosso Associado Honorário Joaquim d’Almeida Marrão Jr., com 95 anos, filho de um dos mais profícuos informantes da Joaninha.
Local: Galeria do Turismo, Ericeira