ICEA – Instituto de Cultura Europeia e Atlântica – Ericeira

Arqueologia Marinha

Ericeira: Mar de História

Desde sempre, o mar da Ericeira tem sido fértil em naufrágios, seja no meio de terríveis tempestades, ou de violentos combates com piratas ou corsários e, no ICEA, sempre houve vontade de identificar os locais onde estes acontecimentos tiveram lugar, de trazer para a luz do dia alguns dos objectos dos navios envolvidos.

Assim, em 2004, ano inicial dos primeiros órgãos sociais do ICEA, a Direcção representada pela Dr.ª Conceição Reis e pelo Sr. António Carlos Serra, propôs ao Professor Arqueólogo Adolfo Silveira Martins membro do Conselho Consultivo do ICEA, a possibilidade de se desenvolver um projecto de arqueologia subaquática na Ericeira. Esta proposta, bem acolhida pelo Professor, encontrou, no entanto, problemas difíceis de resolver, nomeadamente, os que se relacionavam com os equipamentos e com a embarcação a ser utilizada.

A solução passava pela formalização de um protocolo de colaboração com a Marinha Portuguesa, de forma a disporem-se dos meios necessários mas surgiram dificuldades de concretização do projecto, especialmente pelos custos que á partida se colocavam.

Foi nas Jornadas do Mar de 2004, promovidas pela Câmara Municipal da Nazaré, que surgiu uma luz ao fundo do túnel. Nessas jornadas participaram o Cmdt. Luís Ágoas, ex-capitão do porto da Nazaré e Presidente do Conselho Consultivo do ICEA e os Profs. Doutor Adolfo Silveira Martins e António Pascoal, respectivamente Directores do Centro de Estudos do Mar da UAL e do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico. Desse fim-de-semana que passaram juntos, surgiu a hipótese do ISR/IST assumir a parte dos equipamentos que tradicionalmente são utilizados nestes projectos, para além de outros meios da área da robótica. Conseguiu-se, também, a disponibilidade de uma embarcação com condições razoáveis para ser utilizada no projecto e abriu-se uma nova esperança, só que desta vez, com recurso à utilização de novos meios tecnologicamente avançados.

Em Maio de 2005, o ICEA, o Arqueólogo Silveira Martins, pelo CEMar da UAL e o ISR/IST solicitaram ao Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), um pedido de autorização para trabalhos de prospecção arqueológica no mar em frente da Ericeira. Cerca de um mês mais tarde, o Instituto Português de Arqueologia (IPA), concedeu licença para o efeito, pelo período de 3 anos, mas o projecto sofre novo compasso de espera, pois o ISR/IST tem que aguardar por um programa de financiamento que lhe dê cobertura, o que só se vem a verificar em Fevereiro de 2006.

Dispondo, entretanto, das condições necessárias para iniciar o projecto, solicita-se uma reunião com o CNANS no sentido de reposicionar o projecto surgindo outras pessoas – o Arqueólogo Mário d’Almeida e o Investigador documental Patrick Lizé – que na posse de novas informações e de achados fortuitos, se propõem efectuar trabalhos numa zona do mar a Norte da que pretendíamos explorar.

Perante esta situação criam-se condições para conjugar ambos os projectos e assim, em Maio de 2006, após várias reuniões no Museu Nacional de Arqueologia, nos Jerónimos, que contaram com a presença do Dr. Francisco Alves, Director do CNANS, definiu-se uma área ao longo da costa com cerca de 21km de extensão que será prospeccionada ao abrigo da Carta Arqueológica Nacional.

À equipa entretanto formada, juntou-se o Dr. Jorge Russo, Director do GEPS-Grupo de Estudos e Pesquisas Subaquáticas, com sede em Peniche e desenvolveu-se os termos de uma Parceria para o projecto a que se convencionou denominar Ericeira: Mar de História.

No entanto, algumas dificuldades surgem por parte do IST em subscrever os termos da Parceria que tinham sido acordados. Razões de ordem institucional, levam a que o Conselho Directivo do IST, perante a necessidade de submeter este projecto ao seu Conselho Científico, se sinta obrigado antecipadamente, a formalizar um Acordo de Cooperação Técnico-Científico com o ICEA e o MNA. Novo compasso de espera se verifica, com este documento a ser assinado pelos presidentes das 3 instituções, sómente em 24 de Janeiro de 2007.

Recentemente, em reunião efectuada na Ericeira a 24 de Fevereiro, com todos os elementos da parceria presentes, foi definida a área que vai ser solicitada ao CNANS, para licenciamento pelo IPA e estabeleceu-se o mês de Abril próximo como data desejável para início dos trabalhos.

O futuro

Os próximos passos do ICEA neste projecto, são a constituição da base operacional em terra, com a instalação de uma estação fixa de GPS, instalações para a embarcação e equipamentos, alojamentos para os membros da missão e tudo o mais que se relaciona com o apoio logístico ao bom desenvolvimento do projecto.

Após o licenciamento e informação às diversas autoridades competentes, passar-se-á à 1.ª fase que irá tratar da execução de um mapeamento do fundo do mar através de um sonar de banda lateral, com recurso a magnetómetro nos casos em que se justificar.

Esta missão terá uma duração dificil de prever, já que depende em muito, do que vier a ser encontrado, e de acordo com os arqueólogos, tanto nos podemos deparar com os despojos de um navio romano ou fenício, naus da carreira da India ou um veleiro do séc. XIX, e a manterem-se as condições para o seu desenvolvimento, terá uma duração mínima de 5 a 10 anos.

As expectativas são grandes, com as limitações do mais puro bom senso, pois apesar de existirem relatos, documentação e vestígios indicadores de naufrágios e combates na área agora a ser prospeccionada, tudo aconselha a esperar para ver…

A Ericeira

Na hipótese de algumas das expectativas se traduzirem em realidade, serão de esperar alguns desenvolvimentos importantes para a Ericeira e não só.

Desde logo, nos meios científicos da arqueologia nacional e possivelmente mundial, mas também na tecnologia de ponta, na área dos sistemas e robótica, que pela primeira vez em Portugal, está prevista ser usada neste tipo de projectos. Por outro lado, a vinda destes equipamentos para a Ericeira, desde que asseguradas as condições da sua instalação, serão uma mais-valia importantíssima para, eventualmente, desenvolver outros projectos decisivos para o País, em áreas como as da biologia marinha, geologia, etc.. A visibilidade de todas estas acções é muito grande e certamente serão objecto de grande atenção e interesse por parte das comunidades escolares e universitárias. Em suma, se tudo correr como pensamos e desejamos é possível vir a construir aqui um pequeno pólo técnico-científico em condições de aplicabilidade prática.

Depois, se a quantidade dos objectos encontrados for razoável, será do maior interesse a existência de um local com condições laboratoriais de primeira intervenção, para a sua conservação e identificação, em conjugação com o CNANS; tudo isto, a par de um espaço que permitisse à população em geral o acesso e acompanhamento do que regularmente vai sendo trazido do fundo do mar. A criação de espaço museológico ligado a esta temática, será o desenvolvimento natural deste processo.

Natural, será também a criação de uma escola de mergulho e o desenvolvimento do chamado turismo náutico. Enfim, espera-se que este projecto promissor, possa trazer para a Ericeira uma mais-valia no plano histórico, científico e turístico, em geral.

– Este projecto iniciou-se em Outubro de 2011 pela Parceria, com a realização de testes de mar e calibração dos diversos equipamentos.

Aguarda-se com natural expectativa a prospecção geofísica que se irá desenvolver em 2012.

Passados onze anos, o processo de Arqueologia Subaquática continua adormecido, porém, a Direção eleita no início de 2023, entendeu que se deveriam avaliar, até ao final do ano, as condições técnicas, logísticas e financeiras, para um eventual arranque do mesmo, tendo por horizonte os anos de 2024 e 2025. Foi solicitada uma reunião com a Câmara Municipal de Mafra, no sentido de abordar este tema, tendo sido transmitidas as intensões do ICEA, mas como já existe um projecto em curso, de criar uma Área Marinha Protegida (AMPIC-Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário) na costa Atlântica, abrangidas pelas autarquias de Cascais, Sintra e Mafra, com o apoio da Fundação Oceano Azul, ficámos de ser inteirados sobre a possibilidade de este projecto, eventualmente poder abarcar também a Arqueologia Subaquática. Ver notícia de 12 de outubro de 2022. Proposta de Área Marinha Protegida para Cascais, Sintra e Mafra dentro de 12 a 18 meses – Observador.

Os dois links seguintes, referem-se ao projecto apresentado ao Governo, em maio de 2021, para a criação duma (AMPIC) para a zona da costa algarvia, dos concelhos de Albufeira, Lagoa e Silves. CCMAR e Fundação Oceano Azul apresentam ao Governo proposta para a primeira AMPIC | Universidade do Algarve (ualg.pt) e

Ampic – Recife do Algarve (ampiccomprojeto.pt)

2023-07-06